Hábitos e dieta influenciam na qualidade de vida e no envelhecimento saudável
A qualidade da alimentação, sua influência no decorrer da vida e suas consequências principalmente na terceira idade, foram discutidas por meio da Roda de Conversa com a temática “Alimentos ultraprocessados influenciando na qualidade de vida das pessoas ao longo do curso da vida”. O debate ocorreu de forma online na manhã da quarta-feira, 14 de agosto, reunindo participantes e profissionais da saúde de diferentes lugares do Brasil.
O médico geriatra Herbeth Vera Cruz que atua também como presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) do Maranhão falou sobre o envelhecimento da população brasileira e de como a alimentação influencia no envelhecimento saudável. “Todos os países, todos os continentes passam por esse fenômeno de envelhecimento. A Organização Mundial de Saúde alerta que hoje nós temos em torno de 840 milhões de indivíduos idosos, mas que a partir de 2050, nós teremos uma população absoluta de 2 bilhões de idosos. Então essa proporção tem aumentado ao longo do tempo, se traduzindo como fenômeno mundial ao qual o Brasil se insere”, disse.
O médico explica que houve um aumento dos idosos acima dos 60 anos e que desde 2020 nós já temos no Brasil uma população idosa maior que o número de indivíduos até os seis anos de idade. “Nós temos uma diminuição na taxa de mortalidade global, que é acrescida de uma diminuição na naturalidade, além de uma diminuição da taxa de mortalidade, somada com o aumento da expectativa de vida, tendo como consequência o aumento da população idosa. Isso tudo se deve a um processo de urbanização da sociedade, aumento do custo de vida, as mulheres cada vez mais ativas no mercado de trabalho, o controle de algumas doenças, principalmente da primeira infância. Então, de todo esse somatório, isso acaba resultando em aumento da população idosa”, disse.
Jornada do envelhecimento
O médico explica que fatores biológicos, associados a fatores psicológicos e sociais resultam no processo de envelhecimento e que a jornada do envelhecimento é um somatório da carga genética, biológica e o ambiente em que se vive. “Gosto muito de uma frase que fala assim: são necessários ‘dois para dançar um tango’, então, é um somatório desses dois, da minha capacidade intrínseca e do meu ambiente que eu consigo ter um resultante na minha jornada do envelhecimento. A dieta, a atividade física, são fatores de prevenção que vão impactar na nossa capacidade de envelhecer com saúde”, disse.
Mortes prematuras
“Nós temos dados que mostram que uma dieta inapropriada é responsável por 11 milhões de mortes prematuras no mundo e 255 milhões de vidas ajustadas por incapacidade. Então, quando tiro esse somatório do fator ambiental e falo só da alimentação, só uma dieta inapropriada é responsável por esse prejuízo na longevidade e que a gente consegue teoricamente controlar. Uma evidência robusta nos mostra que além de controlar manifestações de doenças, reduzir a incapacidade ou postergar essa incapacidade, o controle alimentar aumenta a expectativa de vida” disse.
Segundo Herbeth, hoje os países desenvolvidos, principalmente os países europeus, investem muito em prevenção. “Tem um trabalho do Reino Unido, mostrando que não só reduz o número de doenças, como aumenta a expectativa em até 10 anos após esse ajuste da dieta. A nossa grande preocupação é que a parcela onde mais se cresce o consumo de alimentos ultraprocessados são nas crianças, nos adolescentes e nos adultos jovens”, pontuou.
Consumo de ultraprocessados
A Roda contou com a participação da nutricionista Bruna Kulik Hassan, que atua como pesquisadora na organização não governamental ACT Promoção da Saúde. Bruna explicou que a má alimentação é um dos grandes desafios a ser enfrentado.
Um dos principais pontos discutidos na conversa foi que os alimentos ultraprocessados são, muitas vezes, atraentes pelo preço baixo e praticidade, contudo o consumo excessivo pode levar a diversos tipos de doenças, devido ao excesso de alguns componentes. “No Brasil, foi feita essa pesquisa pela professora Daniela Canella, da UERJ, em que eles pegaram 10 mil itens de produtos ultraprocessados comercializados no Brasil e viram que quase a totalidade tinha algum aditivo ou quantidade excessiva de algum nutriente crítico para a saúde, seja sódio, gordura, gordura saturada ou açúcar. Então temos um bojo grande de evidências relacionando o consumo de ultraprocessados com ganho de peso, diabetes, hipertensão, câncer, doenças cardiovasculares, depressão, entre outros”, disse.
Bruna contou que recentemente saiu uma pesquisa apontando que os ultraprocessados estão associados a pelo menos 32 doenças diferentes.
Luta pela taxação
Conforme a nutricionista, uma das alternativas para baixar o consumo de ultraprocessados é por meio da reforma tributária, deixando os produtos mais caros. “A saída é uma reforma tributária com o ‘3S‘ – Saudável, Sustentável e Solidária – com desonerações que mantenham alimentos saudáveis, tanto na desoneração do 60% na cesta básica, quanto na exclusão de produtos ultraprocessados que ficaram nessas desonerações, como a margarina. Além disso, é importante a vedação para novos ultraprocessados e a inclusão de produtos da biodiversidade, onde só um produto foi incluído, mas o restante não está na desoneração”, contou.
Bruna destacou ainda que o imposto seletivo já passou na Câmara dos Deputados e irá para discussão no Senado. “Conseguimos um imposto seletivo para refrigerantes e águas saborizadas, o que a gente celebrou, porque foi muito árduo conseguir isso, mas a gente vai tentar expandir para outras bebidas ultraprocessadas, como néctar de fruta, refresco, aquelas bebidas que as pessoas acham que são mais saudáveis, além de biscoitos, salgadinhos, chocolates, balas e sorvetes”, finalizou.
PARTICIPA+
As Rodas de Conversa ocorrem de forma virtual e são parte do PARTICIPA+ Projeto de Formação para o Controle Social no SUS, promovido pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o Centro de Educação e Assessoramento Popular (CEAP), em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), e organizado pela Comissão Intersetorial de Educação Permanente para o Controle Social no SUS do CNS.
Você também pode propor temas para as Rodas de Conversa do Projeto Participa+ que serão realizadas ao longo deste ano. As Rodas de Conversa são uma prática pedagógica que tem como objetivo promover debates em torno de temáticas voltadas para a saúde, controle social, direitos humanos e demais assuntos relacionados ao bem-estar social. Mais informações, inscrições e proposição de temas podem ser feitas no site: participamais.ceap-rs.org.br