Data simboliza o reconhecimento e valorização da presença africana no Brasil e a luta do povo negro, que pela primeira vez vive feriado nacional
“Zumbi morreu na guerra, Eterno ele será, Rei justo e companheiro, Morreu pra libertar” do poeta Solano Trindade, seus versos falam da história de luta de Zumbi dos Palmares. Eterno, símbolo da resistência a escravidão, o dia de sua morte, 20 de novembro, marca também o Dia da Consciência Negra, data que pela primeira vez é feriado nacional no Brasil.
O Dia da Consciência Negra entrou no calendário oficial em 2011 e somente em 2023 foi aprovada pelo Congresso Nacional a lei que transformou a data em feriado nacional. Para o representante da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro Brasil), Ruan Wendell, essa data representa a luta pela igualdade e contra o racismo no Brasil. “Em 2011, foi sancionada a Lei 12.519, que institui o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. Essa data é um marco importante pelo reconhecimento da contribuição africana na formação da sociedade brasileira. Também faz uma homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, que lutou contra a escravidão e também contribui para a conscientização sobre o racismo e a discriminação racial”, pontuou.
Desafios da luta antirracista
Combater o racismo e a invisibilidade das pessoas negras nas mais diversas esferas da sociedade é a busca de entidades e movimentos sociais. Para Wendell, algumas questões integram a luta antirracista como “combater a discriminação institucional e estrutural”, promover a igualdade de oportunidades em educação, emprego e saúde, erradicar a violência racial e policial, valorizar a cultura e a história afro-brasileira e fortalecer a representatividade negra em espaços de poder”.
Desigualdade racial
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2022) 55,5% da população se declarou como pessoas pretas e pardas, contudo mesmo sendo a maioria, a população negra segue sendo minorizada em espaços de liderança no trabalho.
Outro dado apontado pelo Censo do IBGE diz que a proporção de pessoas pobres no Brasil se difere pelo recorte por cor. “Entre os brancos, 18,6% estão abaixo da linha da pobreza, isto é, vivem com menos de US$ 5,50 por dia, conforme uma das classificações do Banco Mundial. O percentual praticamente dobra entre pretos (34,5%) e pardos (38,4%)”, pontuou o estudo.
Segundo o Relatório “Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, lançado ainda em 2017, pontua que embora a população negra tenha experimentado aumento relativo da renda média per capita superior ao da população branca, a desigualdade permanece expressiva, principalmente no ambiente de trabalho.
Dados do documento “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas 2023-2024” produzido pelo Instituto Ethos, mostram que pessoas pretas e pardas compõem menos de 6% dos conselhos e menos de 14% dos cargos executivos e de diretoria, apesar de representarem 55% da população brasileira. “A ausência de representatividade nos espaços de tomada de decisão (Conselho de Administração, Quadro Executivo e Gerência) dificulta a construção de práticas e políticas que sejam assertivas e promovam a mudança de cultura de que precisamos. O grande papel desta pesquisa é chamar a atenção para a disparidade constatada entre o perfil da população brasileira e o perfil dos que ocupam os espaços de maior poder nas empresas brasileiras”, disse o estudo.
Para superar esses desafios, o representante da Unegro destaca que algumas ações podem contribuir para mudança de panorama. “Termos uma educação antirracista em todas as escolas, políticas públicas eficazes para combater a desigualdade racial, participação ativa da sociedade civil na luta antirracista. Também é importante ter o apoio a lideranças negras e organizações sociais, diálogo inter-racial e interseccional. Destacando que o Dia da Consciência Negra é um lembrete da importância da luta antirracista e do compromisso com a igualdade racial no Brasil”, finalizou.
Quem foi Zumbi dos Palmares
Líder do maior quilombo existente no Brasil, Quilombo dos Palmares, Zumbi é reconhecido como um dos símbolos da resistência e da luta dos africanos contra sua escravidão. Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695, data que marcou posteriormente o Dia da Consciência Negra, simbolizando a luta em busca de liberdade e de reconhecimento.
Zumbi
Zumbi morreu na guerra
Eterno ele será
Rei justo e companheiro
Morreu pra libertar
Zumbi morreu na guerra
Eterno ele será
Se negro está lutando
Zumbi presente está
Herói cheio de glória
Eterno ele será
À sombra da gameleira
A mais frondosa que há
Seus olhos hoje são lua
Sol
Estrelas a brilhar
Seus braços são
Troncos de árvore
Sua fala é vento
É chuva
É trovão
É rio
É marAutor: Solano Trindade